quarta-feira, outubro 10, 2012

ABBA


ABBA


Gostamos de explicar as coisas, de graduá-las, delimitá-las em conceitos que nos caibam na mente e nos façam sentido. Mas as coisas mais profundas da vida são inexplicáveis e intraduzíveis. Uma das que nos causam mais alumbramento é quando, pais, ouvimos o balbuciar de “pai” da boca de nossos filhos pequenos. O que não faríamos para abraçá-los e protegê-los de qualquer coisa?

Abba é antes de palavra, antes de conceito, pra não dizer mais do que conceito.
Abba é a expressão usada pela criança quando reconhece a presença segura do pai. Sua melhor tradução seria “papa” ou mesmo “pa”.

Ouvi uma história esses dias. Num terremoto que aconteceu na Turquia há poucos anos, os bombeiros foram chamados desesperadamente por um pai que havia ouvido a voz de seu filho e de outras crianças sob escombros de uma escola. Chegando ao local, conseguiram abrir espaço para retirar as crianças. O pai esperava ansioso ali fora, beirando ao desespero para abraçar logo seu filho. Assim que o espaço foi aberto o pai gritou pelo menino. Todas as crianças saíram de debaixo do concreto e ferro retorcidos e, por último, o seu filho. Assim que o menino saiu, seu pai o agarrou e perguntou: “por que você foi o último a sair meu filho? “, ao que o menino respondeu: “porque eu ouvi a tua voz e sabia que estaria aqui fora me esperando e meus amigos não tinham ninguém esperando por eles aqui”.

Abba é presença que acalenta, que acolhe nos braços e dá segurança, que nos põe de pé e nos projeta, autônomos, mas nunca desamparados, para a vida.

Abba não é conceito que se explique, que se delimite, que se descreva. É algo que se sente e se usufrui. Por isso não me peça para explicá-lo pois, se você pedisse a um de meus três filhos que me “explicassem” para você, não conseguiriam fazê-lo. Mas, dia desses, a Miryana voltava pra casa à pé com meu filho Thiago, quando começou a chover e trovejar de repente. Thiago tinha muito medo de chuva (não tem mais depois de que tomamos um banho debaixo de uma tempestade). Ele logo se agarrou nela e disse: “Eu quero meu pai”. Ele saberia te explicar pouca coisa sobre mim, mas sabia que precisava de mim e que eu faria de tudo pra chegar até ele e, chegando, o agarraria e ele se sentiria seguro.

O convite é o de nos lançarmos ao colo e chamarmos “Abba” para, mesmo em meio às incertezas e inseguranças, usufruirmos da presença que nos aquece e do abraço apertado e demorado, cujo som é o das batidas de Seu coração.

Para usufruir disso, não se precisa de explicação.

É só chamar: “Abba!”

Fabricio Cunha® ( disponível em http://fabriciocunha.com.br/)

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